Capítulo VII - Plumas de anjo

Zoro deu um passo a frente, sendo iluminado por uma das arandelas do quarto.

Law pode ver com mais clareza o alto homem, uma vez que nos quadros não eram visíveis muitos detalhes. Ele era bem alto, possuía uma cicatriz que cortava seu olho do lado direito, um casaco grosso que parecia ser feito de pele de tigre, na cintura levava três bastões com espinhos e estando tão perto Law pode ver dois pequenos chifres entre os curtos cabelos verdes.

-...E então? - Insistiu num tom impaciente.

Trafalgar respirou fundo, essa seria a explicação mais ridícula de sua vida.

-...Vozes me perseguiam no corredor, eu andei sem rumo e de alguma forma uma porta se abriu na minha frente...Eu acho que foi a casa...

- Você pediu para a casa estar aqui? - Law ergueu a sobrancelha com a pergunta descabida, mas levando-se em conta que a casa tinha pernas...

- ...Eu só tentei conversar com a voz e... - E então sua exclamação frustrada passou por sua mente -... E disse que queria saber quem Luffy realmente era...

Então por isso a casa o levou para o quarto de Luffy? Por que disse que queria saber mais dele? Sem dúvidas esses quadros lhe deram algumas pistas e...

Não acreditava realmente que estava aceitando a ideia de que a CASA havia atendido um pedido seu...Mas francamente, o que fazia sentindo nessa noite?!

-... Estranho... - Law suspirou, pelo menos o demônio concordava que tudo isso não fazia sentid- Merry-Sunny não é de atender os pedidos de forasteiros...

...Oficialmente todos aqui devem ser malucos...Sim, isso incluía Merry-Sunny...

E Trafalgar estava começando a temer ser infectado também, claro, sempre e quando não morresse antes, seu 'otimismo' sempre o lembrava.

-...Tampouco deveria ser capaz de passar pela runica de sangue não tendo uma chave...

-...O quê?!

E Zoro apontou atrás de si, a porta ainda estava lá, podia ver a polida madeira de carvalho decorada com traços estranhos que nunca vira antes, em vermelho vivo...Não havia algo similar quando abriu a porta do outro lado. Outra coisa que percebeu foi um objeto branco brilhante fincado onde deveria ser o burraco da chave.

Mas o demônio não respondeu sua pergunta, em seu lugar caminhou com firmeza em sua direção. O corpo de Law tensou-se, desviando o olhar sem poder evitar para os três grandes bastões que levava na cintura, enrolados com o que parecia ser couro, cheio de cravos afiados na ponta...Alguns quase podia jurar possuíam sangue seco.

O ser por outro lado ignorou o humano completamente, parando a um passo dele e virando para o enorme quadro na parede, como se buscasse algo.

-...Tem certeza que você é humano...?

As perguntas estranhas continuaram.

-...Sim...O que mais eu seria?!

Zoro desviou o olhar do quadro e num movimento rápido sacou uma de suas maças, por apenas milímetros Law escapou do golpe, mas o vento provocado pelo ataque foi capaz de jogá-lo no chão.

Antes que conseguisse se endireitar, o demônio cravou a arma do lado de sua cabeça.

-...Considere isso um aviso. Se eu souber, que de alguma forma, que você na verdade é o demônio de algum inimigo tentando esgueirar-se nessa casa para aproveitar-se da habilidade de Luffy, eu mesmo terei prazer em te guiar até as portas do inferno!

-...Eu não faço ideia do que você está falando! - Exclamou. Sim, se era para morrer de qualquer jeito, ele não pensava em fazê-lo sem reagir - Foi Luffy que me salvou da morte em primeiro lugar, me trouxe para cá dizendo que sou seu "amigo" e que eu aceitei alimentá-lo com algo que eu nem me lembro o que é ! E desde então todos vocês vem me intimidando, brincando comigo e até me atacando! Essa é a noção que vocês tem de "amizade"?!

E para seu completo espanto, Zoro sorriu.

- É muito petulante, já entendi o que chamou a atenção de Luffy em você.

Ele se adiantou e agarrou a roupa de Law, esse tentou soltar-se, mas o demônio tinha uma força absurda, porém simplesmente ajudou-o a se levantar grosseiramente. No processo, notou que algo havia grudado em sua roupa, provavelmente a mesmo coisa que tinha pisado quando Zoro apareceu.

O humano piscou, tirando o objeto preso a sua calça.

Uma pena branca. Uma pluma brilhante de um tom puro que sequer pensou existir, como se fosse a pluma de um mesmíssimo anjo.

Olhou ao redor, haviam várias iguais espalhadas pela cama. O que isso estava fazendo no quarto de um demônio?! Não fazia o menor sentido!

Zoro, que estava outra vez vendo o quadro lançou um olhar para o que o outro observava.

- Leve-a com você, será útil para andar por aí - Apontou para a porta e só então Trafalgar percebeu que a chave fincada na madeira era justamente outra pluma. - Ainda mais se você permanecerá nessa casa.

-...Espera, o quê?! Como assim permanecer?!

- Esse quadro nunca mentiu antes - Respondeu ríspido caminhando até a saída.

Law olhou para o quadro na parede e quase caiu no chão outra vez ao perceber que o rascunho ao lado de Luffy tinha exatamente a mesma touca branca com pintas que ele...Como se sua figura também estivessem sendo pintada ali ao lado de todos por mãos invisíveis.

- Venha logo -A voz do demônio o trouxe de volta a sua realidade insana - Preciso te levar até Nami para que você beba a poção pra disfarçar esse seu cheiro humano antes que os outros cheguem, se não...

E saiu pelo corredor.

Trafalgar percebendo que não tinha alternativa, resolveu segui-lo...Porém.

Assim que pisou no corredor a porta do quarto de Luffy desapareceu, mas não apenas ela...

- ... Onde ele foi...?

Não havia sinais de Zoro.

PLAFT

E no instante seguinte o humano estava com a cara contra o solo, sentindo uma enorme dor e peso contra suas costas.

- Oh sinto muito - Uma voz cortês anunciou, mesmo que não parecesse realmente arrependida - ... Eu não quis aterrissar sobre você.

Sentiu dois pesos abandonarem suas costas, imaginando que deveria ter quebrado alguma costela quando dois pares de pés pararam na sua frente.

Com dificuldade levantou o rosto para vê-los. Um homem loiro com uma cicatriz de queimadura do lado direito do rosto e um demônio moreno de cauda pontiaguda.

- ...Olá humano - A voz educada vinha do loiro - Um belo dia para morrer, você não acha?

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