Eu sempre estarei com você.

Brook estava do fora do barco, observando as estrelas no céu. Depois de tudo que aconteceu em Longtown havia se prontificado a ficar de guarda essa noite. Baixou a vista para o pequeno bloco de notas sob seu colo e voltou a rabiscar a letra de uma nova canção, se sentia nostálgico esse dia, e sua vasta experiência lhe dizia que esse era o estado ideal para compor uma nova canção.

Passar por Longtown, tão perto da Red Line e de Crocus e Laboon trouxe ao velho esqueleto várias lembranças...Dos tempos que ainda velejava baixo a bandeira dos piratas Rumbar. Quase podia ouvir as risadas, as vozes cantantes e o som dos instrumentos de seus velhos companheiros, porém meio século de solidão o ensinou que isso não passava de um devaneio de sua mente cansada. Parecia tão real quanto as memórias frescas dos dias de festas e alegria, tempos tão longínquos, mas que as vezes pareciam pertencer a um passado tão recente...

Não significava, contudo, que não apreciava seus novos dias como chapéu de palha, o céu era testemunha de o quão feliz tornou-se, depois de décadas de isolamento, poder voltar a fazer parte de um bando. Mas do mesmo modo que seus atuais companheiros tiveram centenas de aventuras antes de sua entrada para a tripulação, ele tinha milhares de histórias junto de seus velhos companheiros...E as vezes esses detalhes o faziam sentir um pouco deslocado em relação aos demais chapéus de palha.

Sentiu isso mais fresco do que nunca ao ser o único que não chegara a realmente conhecer o pequeno barco carneiro...Os demais tripulantes mostraram tanta emoção como se estivessem vendo um velho companheiro de viagem...Bem, e isso o era não?

Esperava realmente que Jimbei entrasse logo oficialmente para o bando, assim não seria o único a não compartir essas velhas lembranças. Porém, sendo sincero, nada disso lhe importava ou vinha a sua mente quando estava junto de seu atual capitão, Monkey D. Luffy. Algo no pequeno pirata acalmava completamente o coração ausente do esqueleto, o fazia sentir-se realmente em casa, como se desde o inicio da jornada ele sempre estivesse lá...Como se os tempos sombrios e solitários nunca existiram. Por isso, daria sua vida por seu novo capitão, e moveria céus e montanhas para que ele possa realizar seu sonho...E ter não ter o mesmo destino que seu saudoso capitão York...

Repentinamente, teve a estranha sensação que estava sendo observado. Levantou de seu lugar no ninho do corvo e observou ao redor do navio, não parecia haver ninguém por perto, ao menos...Nínguém humano.

- M-m-mas o que é....! - Tentou exclamar ao ver o que parecia uma pequena nuvem vermelha aproximando-se devagar, com um brilho bruxuleante.

Deu alguns passos para trás amedrontado, estava a ponto de berrar algo sobre a presença de um fantasma e acordar absolutamente TODO o barco, no entanto algo na presença fantasmagórica o fez parar.

Ela flutuava de aqui para lá, como se tentasse passar uma mensagem, as vezes fazia até mesmo círculos, parecia que estava perdida...Era impossível não lembrar de si mesmo depois que morreu e teve o efeito de sua fruta ativada, e no entanto acabou se perdendo no caminho de volta a seu corpo...E com isso lhe ocorreu uma ideia.

-... Você é resultado de uma Akuma no Mi?

Não esperava realmente que o ser respondesse, mas para sua absoluta surpresa, a pequena fumaça começou a flutuar de cima para baixo, como se confirmando sua pergunta.

-...Yohohoho....Isso é absolutamente estranho... Não imaginava que existia outras frutas como a minha... - A provável alma agora circulava ao seu redor, como se estivesse feliz em finalmente ser entendida - ...Você por acaso está perdida....?

Ela voltou a subir e descer.

-...Eu queria poder te ajudar...Mas não faço ideia de como - Podia soar completamente ilógico ele querer ajudar um ser sem forma que nem sequer sabia o que era, ou o que queria.

Mas algo em seu interior lhe dizia que seja lá o que fosse aquilo, era bom...Como se...Já o conhecesse...De alguma forma.

- Oh! Eu tive uma ideia! - Então o músico usou-se de sua habilidade adquirida nos dois anos que esteve em turnê e transferiu sua alma para fora de seu corpo, fazendo seus ossos cairem no chão inertes. - Será que nessa forma eu consigo te entender?

A pequena nuvem parou por alguns instantes, como se estivesse avaliando a última frase. Então num movimento extremamente rápido foi em direção as mãos do esqueleto que sustentavam fracamente o bloco de notas e acabou desaparecendo. A princípio Brook não entendeu, mas logo foi tomado por uma mistura de pânico, surpresa e incredulidade. Sua mão esquelética começou a se mexer, de forma absolutamente tremula e assustadora, e começou a rabiscar sobre o papel.

O nono chapéu de palha superou sua impressão inicial e aproximou-se um pouco, de forma que pudesse ler as letras trêmulas que começavam a se formar.

"- Você só pode me escutar se ouvir as voz das coisas" - Leu em voz alta. - ....Voz das coisas? O que seria isso?

A escrita seguiu.

- Não devo ter muito tempo no seu corpo por favor...." - A letra se tornava cada vez mais trêmula e difícil de entender, como se a alma que ocupasse seu corpo estivesse com dificuldade de manejá-lo "Cuidem de Eddie ajudem ele a voltar a seu tempo por favor Brook"

- Como você sabe meu nome?! - Mas não obteve qualquer resposta, de um movimento brusco as mão voltaram a cair no chão. E a pequena fumaça foi lançada para fora do ninho do corpo, como num resultado de uma explosão.

Impressionado com o que acabara de acontecer, o músico voltou a seu próprio corpo, sentindo-o estranhamente cálido, correu até a direção para onde a alma havia desaparecido. Mas ao invés de encontrá-la deparou-se com Sanji saindo pro convés.

-...Sanji...? - O cozinheiro levantou o rosto. Talvez tivesse visto a pequena alma também.

- Brook, está tudo bem aqui...?

-...Bem....- Você encontrar uma alma no meio da noite, ter seu corpo tomado por ela para ser usado para escrever uma mensagem misteriosa e a coisa ainda conhecer seu nome! Não era exatamente a definição de Brook de "Tudo Bem" - Yohohohoho! Digamos que eu tive uma noite bem estranha!...Mas você viu alguma coisa...?

- Eu senti cheiro de queimado e vir ver o que poderia ser....

- Queimado...? - Brook olhou para o bloco em suas mãos uma última vez, resolvendo fechá-lo e tratar desse assunto mais tarde.

Desceu até onde estava seu companheiro, e ambos caminharam até o mastro onde Caesar estava amarrado e dormindo profundamente.

-...Tem razão...Mas o cheiro não está vindo do navio - Comentou Brook perdido demais em seus pensamentos sobre o espírito e sua mensagem para pensar em fazer uma piada de esqueleto sobre não ter nariz.

- Pensei que pudesse ser coisa do Caesar, mas esse inutil está dormindo...

Ambos caminharam até a proa do navio. Ao longe podiam ver pequenos pontos vermelhos piscantes.

-...Aquilo seria terra firme....? - Brook perguntou.

-...É difícil sabermos quando podemos estar em qualquer lugar do mundo que nós ou Luffy já passou...Pode ser também os restos de um navio pegando fogo.

Por um instante o cozinheiro temeu que estivessem de volta para o dia que queimaram o Merry.... Mas naquela ocasião ainda era de tarde, o que descartava a possibilidade.

- Melhor acordarmos a Nami-san para ter certeza...Yohohohoho~! Pode deixar que eu a chamoo! E talvez ela me mostre sua calcinha!!~

- NEM PENSAR! SEU PERVERTIDO! - Deu um grande chute na cabeça do esqueleto - SE ALGUÉM VAI VER A CALCINHA DA NAMI-CHWAN ESSE SOU EU!

E os dois começaram a discutir quem entraria no quarto das meninas...

-...E quem é o pervertido afinal...- Resmungou Caesar irritado ao ser acordado por esses dois idiotas. - E o que são esses gritos...?

Os dois pararam de discutir e começaram a prestar atenção. Ao longe, ao tempo que as luzes se tornavam mais e mais próximas, gritos de desespero e terror começava a tomar os mares.

- É um incêndio! - O músico sem alento - Deve haver pessoas presas lá!

Mas o loiro não estava prestando atenção. Quando mais chegavam perto, mais certeza possuía... Embora a presença fosse infinitamente mais fraca do que era nos seus dias atuais...Não havia dúvida.

Seu capitão estava no meio daquele incendio. E estava cada vez mais fraco....